Após forte temporal na última semana, edifício aparece com rachaduras e ameaça desabar no bairro próximo ao Centro de Niterói. Chuva no fim do dia volta a assustar população do RJ
Um prédio localizado na Rua Barão de Mauá, número 354, na Ponta da Areia, em Niterói, foi interditado no final da noite de quinta-feira pela Defesa Civil sob risco de desabamento, depois da tempestade que atingiu a cidade. Os moradores tiveram que sair às pressas após a queda parcial da fachada e do telhado causada pela chuva e por rajadas de vento. Dezessete famílias ficaram desalojadas. Algumas delas amanheceram o dia em frente ao edifício, com alguns dos pertences que conseguiram retirar.
Segundo a Prefeitura de Niterói, técnicos da Defesa Civil vão fazer o escoramento do prédio. Não está descartada a possibilidade de o edifício ser demolido, o que vai depender da avaliação do órgão.
De acordo com a Prefeitura, quatro famílias que moram no prédio foram para um abrigo municipal, localizado no Centro da cidade e outras foram para casa de parentes ou amigos. As famílias que vivem no local serão cadastradas para o programa habitacional do governo federal “Minha casa, minha vida” e para o recebimento de aluguel social.
Segundo o morador do edifício, o isolador técnico Ederlique Rocha, de 30 anos, o prédio datado de 1964, há 20 anos não recebia reformas. Ele contou que havia pequenas rachaduras em seu apartamento. “Por volta das 16h30 estremeceu tudo, parecia que o prédio ia cair. Eu, minha esposa e nossas filhas pegamos o que conseguimos e levamos para casa de uma vizinha. Mas com o abalo da construção, a porta do meu apartamento não está mais fechando, por isso achei melhor dormi aqui, para impedir caso alguém queira se aproveitar da situação”, conta.
“Foi um desespero total, muita correria, as pessoas chorando, outras desmaiando. Todo mundo sem saber o que fazer, se podia voltar para pegar as coisas, com medo que o prédio viesse abaixo, um verdadeiro caos. Agora estamos esperando para ver se iremos poder pegar os móveis, porque é muito triste deixar tudo para trás”, disse a dona de casa Ana Joyce, de 22.
A costureira Márcia Gomes, de 49, conta que com a correria só conseguiu salvar seu gato de estimação. “Foi muito rápido, não deu tempo de pegar nada. Na hora só consegui pegar meu gato. Estou aqui esperando para saber como vai ser, se o prédio vai ser demolido ou não. Amanheci aqui na frente esperando essa resposta”, disse.
Árvores tombadas e fios arrebentados
As ruas de Niterói exibem as marcas do temporal da noite da última quinta-feira. Árvores arrancadas, galhos quebrados, fios arrebentados e prédios com estruturas abaladas, entre outros. Na Rua Presidente Castelo Branco, no Centro, galhos de árvores pelo chão deixaram difícil a passagem de pessoas e carros. Na Praça do Expedicionário, próximo à Rua Jansen de Melo, funcionários da Parques e Jardins e da Clin eram vistos fazendo a limpeza do que restou da noite.
Na Rua Visconde de Sepetiba, uma árvore localizada em frente ao número 148 foi arrancada pela raiz e atingiu o segundo andar do prédio de número 74. O morador Fernando Calábria contou que só viu o estado da árvore após a chuva diminuir. “Depois que a chuva deu uma trégua, vi que a árvore tinha caído. Ficamos sem telefone e ela está em cima da rede elétrica, o que causa medo de algo pior. Cheguei a pensar em desligar o disjuntor da minha casa. Os bombeiros e a Defesa Civil estiveram por aqui, também por causa do prédio ao lado que está em construção e caiu um monte de andaimes. Os dois falaram que é com a Parques e Jardins, mas até agora, não vieram aqui”, disse.
Carros da Ampla podiam ser vistos pelas ruas durante toda a sexta-feira tentando fazer o reparo de vários pontos da rede elétrica. Os estragos deixaram vários moradores e comerciantes sem energia, causando mais transtornos como perda de eletrodomésticos e de mercadoria perecível. Na Rua Visconde de Itaboraí, um restaurante conhecido como Amarelinho ficou com as portas fechadas o dia todo por conta da falta de luz. A Defesa Civil foi contatada para que passasse um balanço das solicitações de atendimento.
Falta de energia
Niterói sofreu na sexta-feira os efeitos da forte chuva que desabou no fim da tarde de quinta-feira. Depois de mais um dia de forte calor, com sensação térmica acima dos 40 graus, várias ruas do Centro ficaram às escuras. Em São Gonçalo, apenas o bairro de Neves ficou sem energia, segundo a Ampla, concessionária responsável pelo abastecimento de energia dos municípios. Ainda de acordo com a concessionária, alguns trechos do Barreto, bairro divisa com São Gonçalo, também ficaram sem energia. Moradores da Zona Sul e da Região Oceânica não foram afetados.
Na Rua Visconde de Itaboraí houve três piques de luz às 15h50, 15h52 e 16h05. Comerciantes reclamaram dos prejuízos com mercadorias perdidas. “Sofri um prejuízo de mais de R$ 700. Toda a massa de pão estragou. Na esperança da luz voltar, ficamos até as 3h de quinta-feira aguardando que a energia fosse restabelecida”, reclamou a comerciante Tereza da Silva Bastos, dona de uma padaria na Visconde de Itaboraí, no Centro.
Com a comerciante Iranilda Fernandez, dona de um restaurante na Ponta da Areia, não foi diferente. Ela reclamou do grande prejuízo, que ainda não havia sido contabilizado. “Perdi muita bebida e a maioria da minha clientela é do estaleiro, que vem almoçar aqui”, disse.
Vários bairros do Rio como a Ilha do Governador, na Zona Norte; Jacarepaguá e Bangu; na Zona Oeste; amanheceram sem luz. Os municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo e São João de Meriti, na Baixada Fluminense, também.
De acordo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas decorreram de áreas de instabilidade motivadas pelo forte calor. Ainda segundo o Inmet, a temperatura máxima do dia foi registrada em Realengo, na Zona Oeste: 36,8 graus.
Tempo volta a fechar na sexta à tarde
A chuva voltou a causar transtornos aos niteroienses no fim da tarde de sexta-feira Por volta das 17h, um temporal atingiu a região central da cidade e agravou o fluxo de veículos do horário de rush, uma vez que os motoristas precisaram diminuir a velocidade de tráfego. Em alguns cruzamentos de vias, semáforos chegaram a ficar apagados por cerca de dez minutos e agentes da Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans) foram deslocados para orientar o trânsito na região.
Na Alameda São Boaventura e na Rua Miguel de Frias, bem como nos acessos às áreas próximas, o tráfego de veículos sofreu retenções até o fim da noite. Já na Avenida Roberto Silveira, apesar da forte chuva, o trânsito ficou intenso mas fluiu. Na Ponte, houve lentidão em toda a extensão de travessia, na pista sentido Niterói, enquanto na Avenida do Contorno, o trânsito também ficou complicado até o fim do dia.
Mesmo com o tempo ruim, os horários de intervalos para travessia de barcas entre as estações Arariboia e Praça XV, segundo a CCR Barcas, concessionária responsável pelas Barcas, não foi afetado.
Abastecimento – Em nota, a Ampla informou que suas equipes continuam trabalhando para restabelecer o fornecimento de energia em locais onde a rede elétrica foi danificada por fortes ventos e temporais, que lançaram galhos, árvores e objetos sobre os cabos de energia.
De acordo com a concessionária, em Niterói, o bairro mais afetado foi o Centro. Em São Gonçalo e Saracuruna, distrito de Duque de Caxias, localidades também impactadas pelos estragos, “não há concentração de clientes sem fornecimento de energia, apenas atendimentos pontuais”.
Seminário de desastres naturais na UFF
Com a chegada dos dias de chuva, que provocam deslizamentos de terra e grandes inundações, o Programa UFF SOS Comunidade promoveu também na sexta-feira o Seminário Desastres Naturais: Diálogos e Experiências, no Auditório Milton Santos do Instituto de Geociências, Campus da Praia Vermelha, São Domingos, Niterói.
O objetivo do evento foi abrir um espaço para que a sociedade em geral, o Poder Público, a comunidade acadêmica, especialistas e pesquisadores de diversas áreas possam compartilhar experiências relacionadas à prevenção de desastres provocados por eventos naturais, explicou uma das coordenadoras do Programa UFF SOS Comunidade, Maria Lucia Melo Teixeira. “A ideia do seminário foi trazer representantes de diferentes instituições para que pudéssemos trocar experiências a respeito de prevenção de desastres e então diminuir seus impactos. Começamos com o programa em 2010, depois das fortes chuvas que atingiram a cidade em abril daquele ano e desde então nossa equipe interdisciplinar que foi formada vem intensificando ações, como visitas a comunidade, capacitação, com o intuito de nos prepararmos para esses eventos”, disse.
O diretor geral do Centro Universitário de Estudos e Pesquisas Sobre Desastres da Universidade Federal de Santa Catarina, o professor Antônio Edésio Jungles falou sobre a importância preparar a população para a redução de impactos. “Além da tecnologia, que nos ajuda com a previsibilidade, temos que entender os locais ameaçados e os vulneráveis para uma gestão de área de risco e trabalhar com a população para que elas saibam o que fazer em situações de risco. Essa gestão ela tem que ser em conjunto, porque o estado sozinho não consegue fazer nada. Por isso é extremamente importante que debatemos sobre isso e que as pessoas estejam preparadas para agir em situações de risco”, disse.
Participaram do evento também o diretor do Centro Estadual de Administração de Desastres, ligado à Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, major Gil Kempers; a especialista em geotecnia do Instituto Geológico do Estado de São Paulo, Lídia Keiko Tominaga; e a pesquisadora e assistente social do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da Universidade Federal de São Carlos, Dora Vargas.
O FLUMINENSE
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